Bernardo Chatillon

TOUR DE GESTOS

2024


Descrição.













VER GALERIA DE FOTOS
Brígida Machado

O SOL AO CANTO DA FOLHA

2024



Paródia do olho solar
Tenho um primo que diz que tem uns óculos de sol tão bons que até dão para olhar para o sol.
Mas para que queres olhar para o sol?
Gaston F., 30 anos, desenhador de bordados, entrou no asilo de Sainte Anne em Janeiro de 1924. Um mês antes, nas proximidades do Pére-Lachaise, pôs-se a fixar o sol, recebendo ordens para cortar um dedo. Sem hesitar, e sem sentir dor, rasgou o dedo indicador inteiro com os dentes. Fixou o sol para se hipnotizar e não questionou a ordem do astro que lhe dizia: “Faz qualquer coisa madraço, sai desse estado.” Depois dos sentimentos de suicídio, não era grande coisa ficar sem um dedo.
Também Van Gogh forçou o olhar para o sol, num exercício de delírio que resulta em pinturas de “sóis” gloriosos e por oposição, de girassóis murchos. O girassol, a flor solar por excelência acaba vergada e morta... A verdade e o seu oposto, já que segundo ele, o próprio sol tem a cor pestilenta do enxofre.

Bataille descreve este sol apodrecido como a mais elevada concepção mas também a coisa mais abstracta pois não devemos olhá-lo fixamente. Isto pressupõe uma certa loucura. O sol que não olhamos e que idealizamos é de beleza perfeita, o que olhamos será necessariamente horrível, pela própria incapacidade física do homem.
(...) Os olhos humanos não suportam o sol, nem o coito, nem o cadáver, nem o escuro, embora o façam com reacções diferentes.
O sol que brilha e seduz na elevação de Ícaro é o mesmo que derrete a cera que lhe cola as asas e faz com que caia. O homem desafia os seus constrangimentos físicos em troca dessa busca levada ao cúmulo do brilho ofuscante e ilusório do astro.
A Águia-deus, símbolo universal e primitivo fixa o astro de frente, procura esse fogo do céu e destinatário de sacrifícios aztecas. O Rá dos egípcios, a divisa de romanos e imperadores na figura redentora da águia que devolve ao homem a libertação.
Nos Guias de Navegação do século XV e XVI, são muitas as imagens dos astros como elementos essenciais para a compreensão do papel da Astronomia na navegação e calendários. O sol e a lua são muitas vezes dotados de traços humanizantes, a lua quase sempre melancólica e séria, o sol sorridente, sereno ou malandro. A figura humana nestes esquemas astronómicos é uma figura simples feita de traços elementares e os astros assumem o temperamento e as características físicas humanas. Com o avançar dos séculos, estes atributos humanos vão desaparecendo das faces destes astros, porque a seriedade da ciência assim o pede.
Nos livros de horas a presença do astro é frequente como alegoria divina, truncado e incompleto, de pequena dimensão e bem arrumado no diminuto espaço de uma iluminura. Os eclesiásticos e crentes aparecem em oração ou em poses de assombro ou submissão. Por vezes uma mão profética aponta o foco, outras vezes só vemos raios solares perfeitos. As figuras são representadas a olhar esse astro-Deus mas é-nos interdito o seu aspecto na totalidade.
E o sol ao canto da folha das crianças? Porque o cortam? Fazem iluminuras em folhas A3 mas não o eliminam, só o mutilam. A verdade e o seu oposto.
E um cego? Ele sente o sol. Mas não enlouquece porque não o vê.
No centro da pedra está a luz. Irradia mas ainda sem raios.
Queria vê-los. Usei uma máquina de corte. Eram bananas, depois dedos e salsichas. Agora são raios que se podem olhar mesmo sem óculos de sol.
Mas o meu astro está cortado. E não o dedo. A última palavra é da pedra, sem risco de loucura.


Brígida Machado
Évora, Novembro de 2024














VER GALERIA DE FOTOS
Carlota Jardim

o acontecimento ou outra coisa qualquer

ano


Descrição.













VER GALERIA DE FOTOS
Maria Leonardo Cabrita

PING PONG

2024


Descrição.













VER GALERIA DE FOTOS
Maria Lis

ENCLAVE

2024


  
O que aconteceria se, de algum modo, puséssemos o leme nas mãos das crianças, oferecendo-lhes os nossos restos e sobras, perguntando-lhes: o que fazemos agora? Como poderíamos raspar na matéria outras formas de mundo?

Maria Lis foi à procura de objectos sem uso, remetidos aos dias passados, uma peneira, uma caixa de comprimidos, uma balança para cartas, um limpador de espingardas, algumas pedras, uma goteira e outras miudezas e entregou-os a várias crianças para lhes perguntar: e com estas coisas que já temos, também podemos fazer outro mundo?

Trata-se de tentar raspar com as unhas uma forma nova num material antigo, esculpir maneiras de continuar apesar dos tantos entraves.


Uma geografia de entrelinhas, de silêncios e de mãos-na-massa, as imagens de Ana Filipa Correia, os objectos à espera de ânimo e o texto escrito no contexto desta residência pela Maria Lis, ENCLAVE, editado agora pela Língua Morta.

Sobre Enclave

Entre o México e os Estados Unidos, milhares de pessoas trepam à garupa de comboios traçando no mapa um caminho até ao que ainda poderá vir, ou o que pode vir a ser. Muitas destas pessoas são crianças. Muitas delas são capturadas na fronteira e conduzidas para centros de detenção temporária, aí deixadas a aguardar por uma audiência onde uma sequência de perguntas lhes é aplicada - para que, de acordo com a lei, se averigue o destino a dar ao «problema». Valeria Luiselli relatou a sua experiência enquanto intérprete destas crianças nestes interrogatórios, em Tell me How it Ends e no romance Deserto Sonoro.

Maria Lis e Ana Filipa Correia propõem um Enclave e um caminho até lá. Maria escreve sobre a genialidade das crianças quando respondem a realidades tremendas, comboios, viagens e cresceres, sobre o que se leva no saco ou nos bolsos, sobre o que se deixa para trás. Ana Filipa fotografa os entretantos, as possibilidades, o jogo entre o visível e o invisível, a sua força e face macia - uma forma de tensão que desenraiza e procura, assim, escutar o que as palavras dizem a partir de um lugar de abertura e alteridade.  














VER GALERIA DE FOTOS
Maura Grimaldi

Saxa Loquuntor

2023



TEXTO













VER GALERIA DE FOTOS
Micaela Morgado

EPIDERME

2023


Descrição.













VER GALERIA DE FOTOS
Miguel Teodoro

RESSONÂNCIA

2023



“Ressonância” é um projeto de criação de Miguel Teodoro. Convoca correlações entre corpo, território e cultura material para pensar a condição contemporânea do território do Alentejo, em articulação com noções de ancestralidade, reciprocidade, descontinuidade e ecologia. Propõe, como abordagem metodológica, a identificação do “território com/o corpo” (embodied landscape) e a identificação do corpo do artista enquanto dispositivo sensorial, capaz de produzir informação e de reclamar o potencial de produção de conhecimento, no contexto da criação. O artista recorre a uma "arqueologia ficcional de emergência” que compreende uma investigação comparativa dos utensílios arqueológicos e tradicionais utilizados, quer na agricultura, quer na extração do mármore, para propor uma leitura de correspondências entre estes “sistemas” de ferramentas. A investigação objetiva-se com a criação de coleção de objetos executados em pedra, com recurso apenas às “sobras” ou resíduos de extração de pedra (matéria que pelas suas dimensões ou qualidades não encontra mercado). O relevo atribuído às ferramentas manifesta-se, também, através do registo sonoro da sua utilização durante o ato de esculpir. Recorrendo a “audio field recordings” captados durante o processo de trabalho, atende-se ao registo das qualidades de reverberação do som que as superfícies e volumes de pedra oferecem, mas também à espacialização, amplificação e manipulação sonora que esse registo potencia. Os objetos escultóricos produzidos serão apresentados em ambiente instalativo onde o som, a pedra e a imagem, se afirmam como veículos possíveis para a reativação de narrativas, pretexto para pensar os fluxos de resíduos e matérias da região e dar nota dos desafios climáticos latentes, a partir da perspetiva do pensamento ecocrítico.












Pedro Fazenda e Rodrigo Pedreira

A PARTICIPAÇÃO DAS PEDRAS

2024



A experiência clássica – canónica – do espectador perante uma obra de arte consiste em levantar um olhar que a coloca à distância, por mais próxima que ela esteja. Esta formulação é, com ligeiras diferenças, semelhante à que Walter Benjamin deu de aura, isto é, algo único, imanente da obra. 

Mas se pensarmos uma experiência de total proximidade com a obra de arte (que não é o que habitualmente acontece nos museus ou nas galerias de arte), ou seja, como uma experiência de contacto, montagem e ressignificação, temos então de conceber, em conjunto, a ideia de um espaço provisório de apresentação. 

A Participação das Pedras é um exercício coletivo sobre o “valor de exposição” dos objetos artísticos, da escultura e da matéria que viaja no tempo - a pedra.

Será que alguns objetos têm mais aura do que os outros? Será que quando mudamos uma escultura de sítio ela também muda de figura? Será que é possível descrever o que o outro está a ver? E as pedras? O que é que afinal elas têm para nos contar?




















Renata Bueno

DESENHO NUMA PEDREIRA

2023



“Desenho numa pedreira” consubstancia uma investigação da artista Renata Bueno sobre a as possibilidades do desenho em relação com a paisagem e com as pessoas que trabalham nas pedreiras de mármore da região do Alentejo. Parte da possibilidade de introduzir, nas dinâmicas do exigente quotidiano de trabalho de extração da pedra, um enunciado poético que toca a “distribuição polémica das maneiras de ser e das “ocupações” num espaço de possíveis.”, conforme proposto em “Da arte e do trabalho”. Em que é que as práticas artísticas são e não são excepções quando comparadas com outras práticas” (Rancière, “A partilha do sensível”, 2010). 
Por via da prática, com (e através) do desenho, a artista coloca em evidência a oposição entre a “banalidade” do trabalho e a “excepcionalidade” artística e afirma a urgência do registo vídeo e fotográfico de experiências partilhadas e efémeras, como forma de preservar e partilhar inquietudes:“Encontrei uns desenhos de um homem. Um trabalhador das pedreiras que, às vezes, escondido, desenha nas pedras. Tímido. Como é que alguém que corta, que usa máquinas gigantes para elevar blocos de toneladas se pode deixar intimidar por um riscador? Mas risca, não deixa de desenhar um pássaro, um bloco, uma flor. (...)” (Renata Bueno, 2022).