Fotografias ⓒ Pedro Fazenda


autonomia das pedras. | Pedro Fazenda e Rodrigo Pedreira
Exposição-projecto  

13 de setembro de 2025 a 18 de janeiro de 2026
terça-feira a domingo: 9h30 - 13h00 e 14h - 17h30
Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo - Largo do Conde de Vila Flor, Évora

Inauguração
13 de setembro às 15h30
Entrada livre

Isto não é uma exposição


«Não é uma exposição. É uma proposta de uma investigação em curso» foram as palavras do escultor Pedro Fazenda (1957) ao apresentar este trabalho que conjuntamente com o artista Rodrigo Pedreira (1992) nos dá a ver. É simultaneamente um convite a uma experiência diferente: vamos tactear as pedras para que elas nos toquem também.

O apelo da matéria, o tempo sem fim de algumas pedras da mesma pedreira que se encontram na fronteira entre ser e não ser mármore, os blocos de que foram extraídas nos anos 60 do lugar da Fonte do Soeiro, Pardais, Vila Viçosa, as marcas de extracção, estão à espera do seu toque que se transformará em som, um som que talvez não venha a ouvir, pois passará a uma central que Rodrigo Pedreira concebeu.

Há ainda uma memória que queremos realçar, pois este trabalho espelha também a vida e a história desta cidade. Em 1981 decorreu o Simpósio Internacional de Escultura em Pedra, Évora ‘81. Impulsionado por João Cutileiro (1937-2021) pôs em diálogo escultores de várias gerações portugueses e estrangeiros, entre os quais se encontrava Pedro Fazenda. Nessa altura o Museu expôs algumas obras e outras encontram-se ainda em vários espaços da cidade. Foi um marco e fez caminhos. Com o apoio da Câmara Municipal de Évora criou-se o Departamento de Escultura em Pedra que se instalou no antigo Matadouro e dele provém a Pó de Vir a Ser, onde este trabalho que agora se apresenta foi concebido. Em todos os momentos referidos houve sempre um interesse em trabalhar com as sobras das pedreiras numa atenção sensível ao material e ao ambiente.

Creio que estas pedras estão felizes por se encontrarem tão perto de vestígios do Neolítico, na sala adjacente a esta. Não esperavam estar num Museu, talvez já não esperassem a apreciação e o apreço de que são alvo. Não podendo ser outro é este o abraço que lhe damos.

Nesta sala obscurecida, há um tempo longo das pedras para ser vivido. Escutemos, com tacto, o seu cântico imprevisto.


Sandra Leandro

Directora do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo






A matéria da pedra aparenta ser permanente. A aparência não traduz, no entanto, todas as vibrações impermanentes que a desenha.


Uma possível forma de entender o som e a pedra ao mesmo tempo será pensar o grão como a matéria que as constitui. O grão pode ser qualquer coisa de qualquer tempo. É individual, mas apenas se torna visível na massa.

Tocar uma pedra é uma experiência que significa, ao mesmo tempo, muitas coisas: sentir todos os grãos de tempos diferentes numa mesma superfície.  

O feedback do som retroalimenta-se a partir da fusão do passado com o futuro. Talvez as pedras se retroalimentem a partir dessa lógica.

Não há aqui qualquer revelação mística do som. O som não estava lá antes, nem ficará depois. Trata-se apenas de rasgar — romper, para que algo novo possa emergir. Se a música trabalha o tempo e o som molda a paisagem, então estamos algures a meio caminho.

Este foi o sonho que tivemos:

Uma pedra sacrificou-se como recetora e emissora de um mesmo sinal sonoro. Quando tocada por alguém inesperado, primeiro criou uma entropia - que a colocou em êxtase - e depois explodiu em pequenas ações que contaminaram a autonomia de todas as outras pedras.

À medida que foi sendo tocada pelos seus próprios estilhaços, percebeu que a força e o volume não são as únicas medidas de comunicação. O silêncio, a compreensão e a liberdade são estilhaços essenciais para a formação rochosa.

Rodrigo Pedreira




Criação: Pedro Fazenda e Rodrigo Pedreira
Apoio à criação: Mariana Mata Passos
Produção: Pó de Vir a Ser
Co-produção: Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E., Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo
Comunicação: Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo e Pó de Vir a Ser
Design Gráfico: Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo
Tradução dos textos: Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo
Agradecimentos: Victor de Sousa, André Zambujo



GEOLOGIA DA ATENÇÃO é o programa bienal da Pó de Vir a Ser. A Pó de Vir a Ser é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Cultura, Juventude e Desporto / Direcção-Geral das Artes e Município de Évora. Integra a RPAC - Rede Portuguesa de Arte Contemporânea.



       



 





Pedro Fazenda 1957 - Coimbra. 
Estudou no AR.CO - Centro de Arte e Comunicação Visual, Lisboa. Expõe individualmente desde 1986 e colectivamente desde 1979. Desde 1985 é responsável pelo Departamento de Escultura em Pedra do Centro Cultural de Évora, cooperativa de produção artística, ocupando parte do Antigo Matadouro Municipal, cedido por protocolo pela Câmara Municipal de Évora. A partir de 2017, a Associação Pó de Vir a Ser - Departamento de Escultura em Pedra - Centro Cultural de Évora prossegue os mesmos objectivos de investigação e produção de escultura em pedra, contando com equipamentos e logística próprios, proporcionando o cruzamento de saberes e a intervenção na cidade. Atualmente é o presidente da direcção da associação.


Rodrigo Pedreira 
Estabelece a sua prática artística a partir dos princípios intermodais e relacionais das tecnologias audiovisuais com o meio, o espaço e o tempo. Desenvolve a sua investigação artística no campo do vídeo e do som experimental, com o foco particular no Live-Cinema, VJ, Instalação e Sound Art. Desde 2013 que a sua prática se desdobra entre criação, curadoria e programação, tendo colaborado com vários artistas e colectivos. 
Assume a deriva como uma resistência à utilidade.