Fotografia ⓒ Carolina Lecoq


Zona de Caça
Caça-Palavras (BR) ou Sopa de Letras (PT) | Eduardo Freitas

Performance | 27 de Janeiro | Biblioteca Pública de  Évora


"Um dia é da caça, outro do caçador"

Explorando o terreno repleto de pedras do Antigo Matadouro de Évora (agora sede da Associação Pó de Vir a Ser - Departamento de Escultura em Pedra de Évora), Eduardo Freitas deparou-se com um fogão avariado e teve a ideia de esculpir uma versão desse objeto em mármore. O encontro inesperado, que fez acender uma faísca no imaginário do artista, resultou na criação deste “fogão-escultura”, capaz de acender o lume e cozinhar, evocando, assim, os tempos em que o atrito entre as pedras possibilitou a descoberta do fogo primitivo.
O fogão de mármore, que agora encontra um novo lugar junto às pedras brancas e pretas do piso da Biblioteca Pública de Évora, foi apresentado durante a ação “Caça-palavras (BR) ou Sopa de Letras (PT)”, um jogo artístico em que se busca encontrar um conjunto de palavras caçadas no “Manual do Candidato: Programa de Apoio - Criação / Direção Geral das Artes - 2023”.
No processo meticuloso dessa ação, o artista “escolheu a dedo” letras de massa para compor 58 provérbios relacionados à temática da caça. No átrio da BPE, os provérbios foram cozinhados no fogão-escultura, transformando-se em uma sopa oferecida ao público em espaço público. Além disso, todas as letras de massa foram contadas e pesadas para se tentar descobrir a quantidade, o valor e o peso das palavras utilizadas. Aqui vai uma breve conclusão: 1.835 letras, totalizando 73,68 gramas (A-Z), com um custo final equivalente a 16 cêntimos.
O baixo custo identificado recorda-nos a constante necessidade de caçar oportunidades para sobreviver no disputado cenário cultural, igualmente caracterizado pelos desafios associados a orçamentos limitados. À semelhança dos caçadores que se aventuram pelo campo sem a certeza de retornarem com a presa capturada, artistas e agentes culturais empenham-se na árdua tarefa de escrever projetos, sem a garantia do sucesso na conquista de apoios. Este "passatempo" de redigir propostas pode, de facto, tornar-se uma grande "massada". No entanto, não podemos simplesmente “por uma pedra sobre este assunto” a fim de calar o problema, especialmente quando os questionamentos ficam quentes na boca de um fogão, essa arma de fogo e pedra apontada para as adversidades da vida dos artistas.


A residência artística de Eduardo Freitas integrou o ciclo de programação "A Condição do Campo”, um ciclo dedicado à investigação do cruzamento da noção de escultura com outras disciplinas artísticas. Tendo, como ponto de partida, o diálogo com a matéria • pedra • mármore, os artistas residentes desenvolvem o seu trabalho à luz da revisão de conceitos críticos à produção escultórica, em articulação com as suas práticas e outros vocabulários, convocando uma leitura atual do enunciado proposto em “Escultura no campo ampliado” de Rosalind Krauss.

A Pó de Vir a Ser é uma estrutura financiada pelo Ministério da Cultura / Direção Geral das Artes e tem o apoio do Município de Évora, Município de Montemor-o-Novo, Assimagra, Formas de Pedra. Integra a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea.








Eduardo Freitas nasceu a 02 de maio de 1990, em Ponta Grossa - PR, Brasil. Atualmente, vive e trabalha em Portugal.  É doutorando no curso de Arte Contemporânea na Universidade de Coimbra (Bolseiro FCT), e mestre em Práticas Artísticas em Artes Visuais (2019), pela Universidade de Évora. No Brasil, formou-se em Escultura (2012), e especializou-se em Poéticas Visuais (2014) pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

Em 2021, foi convidado para uma residência artística na Associação Pó de Vir a Ser, onde teve seus primeiros contatos com os processos de escultura em pedra. Essa experiência resultou no projeto “En.talho”, permitindo-lhe desenvolver uma compreensão mais ampla e aprofundada dos processos de transformação das rochas e do papel do espaço de criação, especialmente no contexto do antigo matadouro de Évora, atual sede da Associação. Desde então, incorpora a pedra de forma consistente em seu processo de investigação artística e académica. Desde 2023, integra o quadro de sócios da Pó de Vir a Ser, onde mantém um trabalho contínuo e colaborativo, oferecendo também assistência técnica e apoio a outros artistas.

Entre seus projetos recentes de residência artística, destacam-se "Em.prego" (2022) na La Junqueira Artists Residency, em Lisboa, e "Com Data e Hora Marcada", parte do projeto "Planta de Emergência", uma produção da Associação Oficinas do Convento (Montemor-o-Novo) em parceria com a Pó de Vir a Ser (Évora), OSSO Associação Cultural (S. Gregório) e Maus Hábitos (Vila Real).

No seu percurso artístico, recebeu várias distinções, incluindo prémios na Bienal de Cerveira (2024), na Bienal Jov’Arte 2023 de Loures, e em diversos salões de arte pelo Brasil, como o 24º Salão de Arte de Praia Grande, 45º Salão de Arte Luiz Sacilotto, 48º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, 5º Salão Nacional de Cerâmica, 3º Salão de Arte Contemporânea de Ponta Grossa, 14º Salão Nacional de Arte de Jataí, 3º SESI Arte Contemporânea, e 4 º Salão Nacional de Cerâmica.

https://www.instagram.com/edul_freitas/