Fotografias
jogo, pedra e cidade | Residência Artística de FAHR 021.3 (Parte II - Hugo Reis)
Residência Artística - 14-27 Julho
Atelier Aberto - 19 de julho, às 19h, na Pó de Vir a Ser
Farh é um coletivo criado em 2012 por Filipa Frois Almeida e Hugo Reis, que se apresenta como “um lugar experimental e criativo que, através da combinação das disciplinas de arte e arquitetura, busca repensar e redefinir o espaço”.
No âmbito da programação bienal Geologia da Atenção, a Pó de Vir a Ser acolhe o coletivo para um trabalho de relação situada com o território, estruturado em três residências de criação — uma por cada membro do coletivo.
Em março, recebemos António Lasalvia com Mármore e a Murta; em julho, de 14 a 27, acolhemos Hugo Reis com jogo, pedra e cidade. A etapa final de criação decorrerá em outubro, com Filipa Frois, para que, até ao final do ano, as três criações se articulem numa apresentação/exposição do coletivo Fahr 021.3.
Este mês apresentamos no dia 19 de julho, às 19h, a criação em curso de Hugo Reis através de mais um Atelier Aberto, na Pó de Vir a Ser.
jogo, pedra e cidade
As cidades emergem da convergência social num determinado contexto geográfico, estruturas porosas para serem habitadas, atravessadas, mas também interpretadas. Como hipertextos. Ou tabuleiros, abertos e em constante recombinação. Aqui, a arte no espaço público pode ser intervenção, escultura, um gesto simbólico, mas também jogo. E o jogo, mais do que uma distração, é uma linguagem. Um modo de estar e ler a paisagem.
A ideia para este projeto nasce da vontade de espalhar pela cidade de Évora um conjunto de formas de pedra, objetos ambíguos, sem legenda. Podem ser jogo, podem ser armas, podem ser meras reminiscências da urbe. Não há uma regra que diga o que são, ou como devem ser usadas. Talvez alguém as encontre e as guarde, lhes dê um sentido. Talvez sejam empurradas na praça, largo ou pela rua abaixo. Talvez ninguém repare nelas. Ou talvez alguém invente com elas um jogo novo.
O jogo, para Johan Huizinga em Homo Ludens, está na base de todas as formas culturais. Jogamos antes de construir, antes de codificar. Jogar é imaginar, simular, repetir. Jogar é entrar numa outra lógica, uma lógica do "e se". Para o autor o jogo espelha o lúdico, instinto anterior à absorção cultural, será assim? Ou, estará na cultura a forma do tabuleiro que admite o jogo?
Évora, cidade musa marcada por camadas de tempo, é lugar preceito para nos perdermos em jogos de descoberta. As pedras que rolam, colocadas em lugares discretos ou visíveis, transformam a cidade num espaço de desvio: um percurso sem mapa, onde cada um interpreta o que vê. Não se trata de esconder, nem de explicar. Trata-se de propor um processo de auto-reflexão.
A escultura não é monumento. É vestígio. É uma interrupção mínima. É acaso.
A pedra, mármore*, é chão e paisagem local, afeiçoa-se, quiçá de novo, a nova função. Não é apenas peso de memória, mas uma possibilidade de jogo. Não é só um corpo que se exibe num pedestal, mas algo que escapa, que roda, que pode ser tocado, perdido, transformado.
Não se presta a obra, o processo esse sim quer experimente a arte como forma de presença discreta, quase silenciosa, como leitor da paisagem urbana. Como quem deixa uma pergunta no meio da rua.
*Sinónimo de insensibilidade, frieza, dureza, crueldade. https://www.sinonimos.com
Texto: Hugo Reis
Recursos Minerais é um ciclo de residências que acolhe três coletivos ao longo de 2025, e os convida a transitar e trespassar os campos da escultura, paisagem, arquitetura e urbanismo, recombinando modos de fazer no território.
GEOLOGIA DA ATENÇÃO é o programa bienal da Pó de Vir a Ser. A Pó de Vir a Ser é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Cultura / Direcção-Geral das Artes e Município de Évora. Integra a RPAC - Rede Portuguesa de Arte Contemporânea.
Hugo Reis (1986)
Formado em arquitectura em 2009, no Porto. Cidade onde vem a iniciar o seu percurso profissional em arquitetura junto com os Arquitectos Anónimos. Em 2010, à procura de novas experiências pessoais e profissionais, integrou o escritório internacional de arquitetura Jürgen Mayer H. em Berlim, onde trabalhou por dois anos como arquiteto de projeto e arquiteto responsável em várias escalas de intervenção. Em 2012, junto com Filipa Frois Almeida, fundou o FAHR 021.3. Um estúdio experimental e criativo que, através da combinação de práticas artísticas busca repensar e redefinir o espaço e/ou lugar. Aqui, abraça projetos de diferentes escalas e tipologias, como: site-specific, escultura, arquitectura, arte pública, intervenções e estratégias de atuação na paisagem ou programação e coordenação de projetos curatoriais e culturais.
Território, paisagem, espaço (e) público, são tópicos transversais ao seu percurso. Em 2015, é cofundador do colectivo HODOS, um projeto no plural que visa a intervenção de arte e de arquitectura na paisagem. Aqui, faz a coordenação geral do programa de arte aplicada ao lugar, “Desencaminharte18”, (2018-19), promovido pela CIM Alto Minho; ainda com este colectivo, exploraram novos processos de projeto e desenho de intervenção na paisagem ao longo do rio Coura de seu nome “Meandros do Coura”, em Paredes de Coura (2016-20).
Desde 2020, Hugo é bolseiro de doutoramento pela FCT em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos no ISCTE, em Lisboa, e integra o Dinâmia‘CET - Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território como investigador assistente. Aqui, explora processos de aproximação entre Arte e Urbanismo em cidades de pequena e média dimensão em Portugal.
FAHR 021.3
Criada em 2012 por Filipa Frois Almeida e Hugo Reis, FAHR 021.3 é um lugar experimental e criativo que, através da combinação das disciplinas de arte e arquitetura, busca repensar e redefinir o espaço. Aqui, abraça projetos de diferentes escalas e tipologias, desde: arquitetura temporária, espaço público, intervenções na paisagem, cenografia, bem como, curadoria, programação e coordenação de projetos culturais. Desde então, FAHR tem sido distinguida nacional e internacionalmente por um conjunto de projetos que se caracterizam pela sua abordagem formal e provocadora. No ano de 2018, teve um dos seus trabalhos representados, o Pavilhão de Serralves, na 16a exposição Internacional de Arquitectura La Biennale di Venezia PUBLIC WITHOUT RHETORIC, fez parte de duas edições da Bienal de Arte Contemporânea da Maia e em 2019 foram selecionados para o 40 under 40 European Design Award, Europeans Centre for Architecture, Art, Design and Urban Studies.
+info: https://www.fahr0213.com/