ENCLAVE
2024
O que aconteceria se, de algum modo, puséssemos o leme nas mãos das crianças, oferecendo-lhes os nossos restos e sobras, perguntando-lhes: o que fazemos agora? Como poderíamos raspar na matéria outras formas de mundo?
Maria Lis foi à procura de objectos sem uso, remetidos aos dias passados, uma peneira, uma caixa de comprimidos, uma balança para cartas, um limpador de espingardas, algumas pedras, uma goteira e outras miudezas e entregou-os a várias crianças para lhes perguntar: e com estas coisas que já temos, também podemos fazer outro mundo?
Trata-se de tentar raspar com as unhas uma forma nova num material antigo, esculpir maneiras de continuar apesar dos tantos entraves.
Uma geografia de entrelinhas, de silêncios e de mãos-na-massa, as imagens de Ana Filipa Correia, os objectos à espera de ânimo e o texto escrito no contexto desta residência pela Maria Lis, ENCLAVE, editado agora pela Língua Morta.
Sobre Enclave
Entre o México e os Estados Unidos, milhares de pessoas trepam à garupa de comboios traçando no mapa um caminho até ao que ainda poderá vir, ou o que pode vir a ser. Muitas destas pessoas são crianças. Muitas delas são capturadas na fronteira e conduzidas para centros de detenção temporária, aí deixadas a aguardar por uma audiência onde uma sequência de perguntas lhes é aplicada - para que, de acordo com a lei, se averigue o destino a dar ao «problema». Valeria Luiselli relatou a sua experiência enquanto intérprete destas crianças nestes interrogatórios, em Tell me How it Ends e no romance Deserto Sonoro.Maria Lis foi à procura de objectos sem uso, remetidos aos dias passados, uma peneira, uma caixa de comprimidos, uma balança para cartas, um limpador de espingardas, algumas pedras, uma goteira e outras miudezas e entregou-os a várias crianças para lhes perguntar: e com estas coisas que já temos, também podemos fazer outro mundo?
Trata-se de tentar raspar com as unhas uma forma nova num material antigo, esculpir maneiras de continuar apesar dos tantos entraves.
Uma geografia de entrelinhas, de silêncios e de mãos-na-massa, as imagens de Ana Filipa Correia, os objectos à espera de ânimo e o texto escrito no contexto desta residência pela Maria Lis, ENCLAVE, editado agora pela Língua Morta.
Sobre Enclave
Maria Lis e Ana Filipa Correia propõem um Enclave e um caminho até lá. Maria escreve sobre a genialidade das crianças quando respondem a realidades tremendas, comboios, viagens e cresceres, sobre o que se leva no saco ou nos bolsos, sobre o que se deixa para trás. Ana Filipa fotografa os entretantos, as possibilidades, o jogo entre o visível e o invisível, a sua força e face macia - uma forma de tensão que desenraiza e procura, assim, escutar o que as palavras dizem a partir de um lugar de abertura e alteridade.